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Autismo no Brasil

Dia Mundial do Autismo: importância e evolução histórica

3 de abril de 2025
Autor(a):
Frozina Souto
Dia Mundial do Autismo: importância e evolução histórica

O Dia Mundial da Conscientização sobre o Autismo, celebrado em 2 de abril, é um marco mundial e nacional na luta pela inclusão. Desde a sua instauração pela ONU, em 2007, a data visa abrir diálogos sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), encorajando uma compreensão mais ampla e empática ao redor de uma condição tão multifacetada. Você sabia, por exemplo, que a escolha da cor azul como símbolo é diretamente ligada às taxas de diagnóstico entre meninos? Este artigo explora como marcos sociais, históricos e médicos moldaram a percepção pública sobre o autismo.

A origem do termo autismo no início do século XX

O termo “autismo” foi usado pela primeira vez em 1911 pelo psiquiatra suíço Eugen Bleuler. Ele introduziu o conceito ao estudar pacientes com esquizofrenia, associando o termo à tendência de ‘se desligar’ da realidade externa para uma realidade interna [Revista Tópicos]. Essa ideia refletia o comportamento observado em esquizofrênicos severamente retraídos, para os quais Bleuler cunhou “pensamento autista” como uma manifestação dessa desconexão mental.

A evolução da terminologia

Na década de 1940, o termo ganhou novos significados. Leo Kanner, psiquiatra americano, estudou crianças que apresentavam um conjunto único de desafios sociais e comportamentais, nomeando o quadro como “distúrbio autístico do contato afetivo”. Uma criança notável estudada por Kanner foi Donald Triplett, o primeiro paciente diagnosticado oficialmente com o que seria chamado de autismo moderno [Cenat Cursos]. Em paralelo, Hans Asperger também utilizou o termo em seus estudos, embora suas publicações originais, redigidas em alemão, tivessem impacto limitado na época [PePSIC].

Pioneiros e os primeiros estudos

Acreditava-se inicialmente que o autismo fosse uma forma de esquizofrenia infantil. No entanto, trabalhos subsequentes mostraram que ele não se encaixava perfeitamente nesse diagnóstico. Entre 1908 e a Segunda Guerra Mundial, estudiosos debatiram a definição verdadeira e científica do termo. Apesar disso, o autismo só começou a ser tratado como uma condição independente no final da guerra, quando pesquisas mais abrangentes de Kanner e outros ganharam visibilidade [ABA+].

Por que o dia 2 de abril foi escolhido como marco global

Por que o dia 2 de abril foi escolhido como marco global

O Dia Mundial da Conscientização sobre o Autismo, celebrado em 2 de abril, foi estabelecido pela Assembleia Geral da ONU em 2007. Essa data foi criada para destacar a importância de melhorar a qualidade de vida das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), promovendo suas plenas e significativas participações na sociedade [Wikipedia]. É uma das poucas datas específicas de saúde reconhecidas internacionalmente pela ONU, mostrando a relevância global do tema.

A proposta inicial

A iniciativa para este dia veio de Moza bint Nasser Al-Missned, uma representante do Catar na ONU, e foi unanimemente apoiada pela Assembleia Geral como uma maneira de estimular a inclusão universal e os direitos humanos [ONU]. Desde então, ela tem servido como um marco anual para discussões sobre educação, acessibilidade e aceitação ao redor do mundo.

Além da consciência: a aceitação

Uma crítica frequente trazida por grupos de defesa de autistas, como a Autistic Self Advocacy Network (ASAN), é que o foco somente em “consciência” pode reforçar perspectivas capacitistas. Por isso, existe um chamado crescente para transformar o Dia da Conscientização sobre o Autismo em um movimento de aceitação, celebrando a neurodiversidade e combatendo a discriminação [Autism Acceptance Advocates].

A conexão com o azul

A campanha “Light It Up Blue” (Acenda em Azul) busca simbolizar o apoio à causa e foi incorporada ao Dia Mundial do Autismo. Diversos marcos globais, como a Torre Eiffel e o Cristo Redentor no Rio de Janeiro, já foram iluminados em azul como forma de solidariedade. Usar azul em 2 de abril tornou-se um gesto simbólico amplamente reconhecido [Autism Speaks].

O papel da cor azul como símbolo de conscientização

A cor azul é amplamente reconhecida como o símbolo do Dia Mundial da Conscientização sobre o Autismo. A escolha do azul está intimamente ligada ao fato de que o autismo afeta mais meninos do que meninas, em uma proporção de aproximadamente 4 para 1. Esse dado foi um fator decisivo para que a ONU associasse essa cor à campanha global [IFMG]. Além disso, o azul simboliza tranquilidade, confiança e segurança, características que a campanha busca transmitir ao promover aceitação e compreensão [Rhema Neuroeducação].

A tranquilidade do azul nas campanhas globais

Locais emblemáticos em todo o mundo, como o Cristo Redentor no Brasil ou a Torre Eiffel na França, são iluminados em azul todos os anos em 2 de abril. Essa prática ajuda a criar uma conexão global em torno da conscientização, trazendo visibilidade ao Transtorno do Espectro Autista (TEA). A iluminação azul em monumentos não apenas simboliza apoio, mas também incentiva conversas relevantes sobre a inclusão de pessoas autistas em diferentes sociedades [NeuroConecta].

Símbolos associados à campanha

Embora o azul seja o principal destaque, outros símbolos também desempenham um papel importante na conscientização sobre o autismo. O símbolo do quebra-cabeça, por exemplo, representa as complexidades, desafios e as muitas facetas do TEA. Mais recentemente, o símbolo do infinito colorido, criado por autistas, ganhou popularidade por enfatizar a diversidade e a neurodiversidade dentro do espectro [Governo do Brasil]. Essas imagens e cores fortalecem ainda mais a mensagem de aceitação e inclusão global.

Donald Tripplett: o primeiro caso diagnosticado de autismo

Donald Tripplett: o primeiro caso diagnosticado de autismo

Donald Triplett foi a primeira pessoa no mundo oficialmente diagnosticada com autismo em 1943, aos 10 anos de idade. Seu caso foi documentado pelo psiquiatra infantil Leo Kanner, que descreveu os sintomas de Triplett em seu famoso artigo “Autistic Disturbances of Affective Contact”. Esse artigo pioneiro foi fundamental para definir o autismo como um distúrbio independente, separado de outras condições como a esquizofrenia [Britannica].

Um diagnóstico que mudou a ciência

Tudo começou em 1938, quando os pais de Donald encaminharam uma carta detalhada sobre seu comportamento a Kanner, no Hospital Johns Hopkins. A descrição incluía sua dificuldade de estabelecer contato social, sua tendência a ecoar palavras e seu talento excepcional para habilidades específicas, como números [NPR]. Donald foi registrado como “Case 1” em um grupo de 11 crianças estudadas por Kanner, que então criou o termo “autismo infantil” para descrever esse padrão único de características [BBC].

A vida plena de Donald

Apesar de viver em uma época com conhecimento limitado sobre o espectro autista, Donald levou uma vida independente e feliz em sua cidade natal, Forest, Mississippi. Ele trabalhou em um banco local por décadas e era conhecido na comunidade por suas habilidades matemáticas impressionantes e sua gentileza. Sua vida serviu de inspiração, desafiando estigmas sobre o que pessoas autistas podem alcançar [CNN].

Avanços legislativos e conquistas no Brasil para o TEA

No Brasil, a criação de leis específicas para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) representa um marco em termos de inclusão e direitos humanos. Um dos maiores avanços foi a Lei nº 12.764/2012, conhecida como Lei Berenice Piana, que instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Autismo. Essa política oferece direitos básicos, como acesso à educação, saúde, e ao mercado de trabalho, além de reforçar o entendimento do autismo como uma deficiência, garantindo proteção sob a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência [Planalto].

Avanços no reconhecimento e estatísticas

Outro desenvolvimento crucial foi a Lei nº 13.861/2019, que incluiu o TEA no censo demográfico, permitindo um mapeamento mais preciso do número de pessoas com autismo no Brasil. A próxima coleta do censo deve finalmente integrar questões sobre o TEA, um passo essencial para o direcionamento de políticas públicas eficientes [Diário PCD].

Mais acessibilidade com a Ciptea

Em 2020, foi lançada a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea), facilitando o acesso prioritário a serviços públicos e privados e garantindo maior visibilidade às pessoas no espectro. Embora seja uma ferramenta importante, sua implementação ainda enfrenta desafios relacionados à emissão e ao reconhecimento em alguns estados [ALMG].

Desafios em meio às conquistas

Ainda que as conquistas legislativas sejam notáveis, nem sempre trazem impacto imediato na vida das pessoas. Muitas famílias lidam com a falta de diagnósticos precoces, ausência de serviços especializados e barreiras sociais. Além disso, o mercado de trabalho permanece um desafio significativo, destacando a importância de ações práticas para tornar os direitos uma realidade [Viver Política].

A desconstrução de mitos como as ‘mães-geladeira’

A desconstrução de mitos como as

O mito das “mães-geladeira” surgiu no final da década de 1940 e persistiu por décadas, causando enorme sofrimento às famílias de crianças com autismo. O termo foi popularizado pelo psicanalista Bruno Bettelheim, que erroneamente afirmou que a falta de afeto das mães seria uma das principais causas do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Sua teoria foi destaque em livros como The Empty Fortress (A Fortaleza Vazia), publicado nos anos 1960. Entretanto, pesquisas científicas demonstraram que o autismo é uma condição neurobiológica com causas genéticas predominantes, desmentindo essa visão equivocada [Wikipedia].

O impacto emocional do mito

Durante décadas, mães de crianças autistas carregaram um fardo emocional intenso pelo estigma da teoria das “mães-geladeira”. Muitas delas sofreram com culpa exacerbada e isolamento social, acreditando, ou sendo levadas a crer, que seu comportamento seria o responsável pelo desenvolvimento do autismo em seus filhos. Esse impacto negativo afetou não apenas as mães, mas as famílias como um todo, prejudicando as relações parentais e a busca por intervenções adequadas [Instituto Singular].

O colapso da teoria

Na década de 1970, avanços na neurociência começaram a refutar a teoria psicogênica do autismo. Pesquisas demonstraram que o TEA é relacionado a alterações nos mecanismos cerebrais básicos de sociabilidade e interação. Um estudo aclamado revelou a inexistência de evidências científicas que conectassem o comportamento materno às causas do autismo. Hoje, a comunidade médica reconhece o modelo neurobiológico como a principal explicação para o transtorno [Autismo em Dia].

Avançando rumo à conscientização

Apesar de a ciência ter desmentido o mito das “mães-geladeira,” sua sombra ainda persiste no imaginário popular. Por isso, iniciativas focadas em educação, como campanhas informativas e apoio psicológico, têm ajudado a desmistificar essas ideias e reduzir o estigma. Organizações especializadas em autismo, como o Instituto Singular, promovem eventos e materiais educativos para conscientizar a população e apoiar famílias em suas jornadas [Instituto Priorit].

Da Síndrome de Asperger ao atual diagnóstico do TEA

A Síndrome de Asperger foi descrita pela primeira vez em 1944 pelo pediatra austríaco Hans Asperger. Ele observou crianças com dificuldades em interações sociais, mas que apresentavam linguagem e inteligência típicas. Esse trabalho permaneceu amplamente desconhecido até os anos 1980, quando foi traduzido e repercutiu na comunidade científica internacional. Durante anos, a Síndrome de Asperger foi considerada uma condição diagnosticamente separada, pertencente ao grupo dos Transtornos Invasivos do Desenvolvimento (TID), conforme o DSM-IV de 1994 [Matheus Trilic Neurologia].

A mudança para o conceito de TEA

Com a publicação do DSM-5, em 2013, a Síndrome de Asperger deixou de existir como uma categoria diagnóstica separada e passou a integrar o Transtorno do Espectro Autista (TEA). A principal razão para essa mudança foi reconhecer que as diferenças entre os subtipos eram subjetivas e que o autismo forma, de fato, um espectro único. O CID-11 da Organização Mundial da Saúde, lançado em 2018, adotou a mesma perspectiva, encerrando formalmente o uso do termo Asperger nas classificações médicas [Telavita].

Impactos dessa atualização

Embora a atualização tenha promovido uma visão mais inclusiva, muitos indivíduos que já haviam sido diagnosticados como tendo Síndrome de Asperger relataram dificuldades em se identificar com a nova nomenclatura. Alguns destacam que o termo ainda é amplamente utilizado em comunidades, escolas e no cotidiano, mesmo que já não faça parte dos manuais médicos oficiais. Por outro lado, os especialistas enfatizam que a unificação dos diagnósticos amplia o acesso aos serviços e reduz barreiras para tratamentos [Autismo é Realidade].

A essência permanece

Apesar da mudança na terminologia, comportamentos associados à Síndrome de Asperger, como interesses específicos e detalhistas, continuam a ser observados dentro do diagnóstico de TEA. A nova abordagem permite identificar um espectro mais amplo de características, promovendo um atendimento mais individualizado e inclusivo [Agência Brasil].

Conclusão

A história do autismo é marcada por avanços significativos, desde o reconhecimento inicial por especialistas como Hans Asperger até conquistas legislativas, como a Lei Berenice Piana. Cada passo representou um esforço global para desmistificar o TEA, promover a inclusão e celebrar a neurodiversidade.

Apesar das barreiras, como estigmas passados e desigualdade no acesso a serviços, o caminho hoje é mais claro e promissor graças ao trabalho de pesquisadores, legisladores e comunidades engajadas. A conscientização deve agora se transformar em aceitação, criando um ambiente onde pessoas autistas possam prosperar.

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FAQ – Principais dúvidas sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA)

O que diferencia o TEA de outros transtornos de desenvolvimento?

O TEA abrange um espectro de características, como desafios de socialização e interesses restritos, mas inclui também talentos únicos em áreas específicas. Esse conjunto multifacetado é o que o diferencia de outros transtornos.

Por que a Síndrome de Asperger não é mais diagnosticada separadamente?

A Síndrome de Asperger foi incluída no TEA para simplificar diagnósticos e garantir acesso igualitário aos tratamentos. No passado, essas divisões diagnósticas às vezes criavam barreiras ao suporte adequado.

Como o Brasil está avançando na inclusão de pessoas com autismo?

Legislações como a Lei Berenice Piana e a criação da Ciptea são exemplos claros de avanços rumo à inclusão. No entanto, ainda há desafios na implementação prática dessas políticas.

A cor azul sempre representou o autismo?

Não. A cor azul foi adotada por campanhas como ‘Light It Up Blue’, devido à maior prevalência de diagnósticos em meninos. Hoje, símbolos alternativos, como o infinito colorido, estão ganhando destaque.

Como combater o estigma em torno do TEA?

A educação e campanhas de conscientização são cruciais para quebrar preconceitos sobre o autismo. Participar de eventos de conscientização e compartilhar informações baseadas em evidências é o primeiro passo.

Quais são os primeiros sinais de autismo em crianças?

Os sinais podem incluir dificuldade na interação social, atraso na fala e comportamentos repetitivos. O diagnóstico precoce e o acompanhamento profissional são fundamentais.

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